4/22/2011

Jeremias

Natural de Anatote, um pequeno vilarejo situado cerca de 6 quilômetros ao norte de Jerusalém, Jeremias era de família sacerdotal (1.1) e foi comissionado pelo Senhor ainda no ventre materno: "antes que saísses da madre, te consagrei e te constituí profeta às nações" (1.5). Muito provavelmente tenha nascido em uma data próxima à de Josias, por volta do ano 646 a.C. Atuou por quatro décadas, aproximadamente no período de 627 a 587 a.C.
Apelidado de "O profeta chorão" por seus escritos marcados por um tom de tristeza e queixumes, não pessoal, mas pelo seu povo, acabou escrevendo também um livro com suas Lamentações. Possuía um coração extremamente sensível, o que faz com que, em seu livro, expressões de amor e sofrimento atingem, por vezes, sejam muito vivas. Sentimentos como a ternura de Deus para com o seu povo e a mágoa de se ver por ele incompreendido, o esmagamento do profeta ante a ruína moral e política de sua amada nação, as alegrias pela reconciliação e o feliz reflorir fazem vibrar as cordas íntimas do seu coração.
O ambiente político daquela época foi marcado por grandes conflitos, uma vez que grandes potências se encontravam em plena disputa pelo poder. Em 722 a.C. tropas Assírias haviam invadido Samaria, a capital de Israel (reino do Norte), apagando definitivamente do mapa esse reino e deportando seus habitantes para as regiões da Mesopotâmia (2Reis 17.6). Para afirmar seu poderio sobre a região, Senaqueribe fez também incursões contra o reino de Judá (Sul), a esta época sob o governo do rei Ezequias. Este se submete aos assírios e livra seu reino de um final semelhante ao do vizinho Israel, ficando, entretanto, sujeito a pesados impostos (2Reis 18.13-14).
Após a morte de Sargão II, a Assíria, que havia fixado os seus domínios nos dois séculos anteriores, se vê enfraquecida por causa de disputas internas pelo poder, da insatisfação crescente entre os povos dominados pelos altos tributos que lhes eram cobrados pelo império, e ainda, por inimigos externos, como os líbios, ao sul, e os indo-arianos, ao norte. Com a morte de Assurbanipal, o império assírio começou a ruir, até que em 612 a.C. a grande Nínive foi destruída pelos babilônios.
No plano religioso as coisas também não iam bem em Israel. As reformas religiosas do rei Josias que tanto impacto causaram no início, com o passar do tempo, foram pouco a pouco sendo arrefecidas e o fervor religioso deu lugar à idolatria. Como escreve Antônio Nves de Mesquita, "a reforma promovida por Josias foi puramente superficial. O regresso à idolatria durante o reinado de Joaquim, e a deslavada maldade de Judá, segundo Jeremias 21 e 22.15-16, mostram isso".
A MENSAGEM
A mensagem de Jeremias, pregada durante um longo período, parece ter passado por alguns estágios distintos.
No primeiro, ele conclamou o povo a se arrepender de seus pecados para que não viessem a sofrer nas mãos da Babilônia (3.12).
O segundo estágio trata da punição de Judá por aquela nação. O tempo de arrependimento havia terminado e o castigo de Deus era agora inevitável (2.1-10).
Um terceiro estágio anunciava o propósito restaurador desse castigo. O exílio na Babilônia, segundo um Deus misericordioso, seria o caminho de vida (e de volta) para aqueles que aceitassem a punição (21.9; 24.4-7). É nesse contexto do último estágio que as promessas, as quais incluíam a esperança de uma nova aliança, surgem (31.31-34).
ESBOÇO DO LIVRO
1.1 - 19 Jeremias - Introdução
2.1 - 4.4 A acusação do Senhor contra o seu povo
2.1 - 8 Um amor abandonado
2.9 - 28 A acusação
2.29 - 37 Pode Judá voltar a Deus?
4.5 - 6.30 Figuras do juízo de Judá
4.5 - 31 O inimigo se aproxima
5.1 - 31 O castigo devido à falsidade de Judá
6.1 - 30 "Em vão continua o depurador"
7.1 - 8.3 Adoração e fé falsas
7.1 - 15 Um sermão no templo
7.16 - 29 Além da redenção
7.30 - 8.3 Abominações para o Senhor
8.4 - 10.25 O pranto pela apostasia de Sião
8.4 - 22 Nenhum arrependimento verdadeiro
9.1 - 11 Um povo totalmente falso
9.12 - 26 Lamento pelo povo que tem de sofrer
10.1 - 25 Ninguém é semelhante ao Senhor
11.1 - 13.27 A quebra da aliança
11.1 - 17 Jeremias expõe a rebeldia do povo
11.18 - 12.6 "Confissões"
12.7 - 13 Deus e sua "casa"
12.14 - 17 Um plano para as nações
13.1 - 27 Sinais do juízo
14.1 - 15.21 Fome, espada e peste
14.1 - 10 A seca
14.11 - 22 Tarde demais para orações
15.1 - 9 Tarde demais para compaixão
15.10 - 21 Uma confissão - e a resposta amorosa de Deus
16.1 - 17.27 Figuras do exílio e da salvação
16.1 - 21 Exílio prenunciado
17.1 - 13 Confiança nos recursos humanos - confiança no Senhor
17.14 - 18 Uma confissão
17.19 - 27 Guardando o sábado
18.1 - 19.13 Dois vasos quebrados e uma confissão
18.1 - 18 Um vaso quebrado e refeito
18.19 - 23 Uma confissão
19.1 - 13 Um vaso quebrado não pode ser refeito
19.14 - 20.18 Jeremias amaldiçoa o dia em que nasceu
19.14 - 20.6 Jeremias no templo
20.7 - 18 Uma última confissão
21.1 - 24.10 Salvação somente por meio do exílio
21.1 - 14 Nenhum livramento da Babilônia
22.1 - 30 Reis indignos
23.1 - 8 Um novo rei davídico
23.9 - 40 Sobre os falsos profetas
24.1 - 10 Dois cestos de figo
25.1 - 38 Deus julga todas as nações
25.1 - 14 O período babilônico
25.15 - 38 O cálice da ira de Deus
26.1 - 29.32 Jeremias se torna um profeta da salvação
26.1 - 24 Jeremias por pouco não escapa da morte
27.1 - 22 Servi a Nabucodonosor!
28.1 - 17 A mensagem de Jeremias mostra-se correta
29.1 - 14 "Edificai casas na Babilônia"
29.15 - 32 Profetas na Babilônia
30.1 - 33.26 A promessa de uma nova aliança
30.1 - 24 A saúde é restaurada
31.1 - 26 O retorno do remanescente
31.27 - 40 A nova aliança
32.1 - 15 Jeremias compra um campo
32.16 - 44 Acaso há alguma coisa difícil demais para o Senhor?
33.1 - 13 A voz de júbilo e de alegria
33.14 - 26 Uma aliança eterna
34.1 - 36.32 Resistência à mensagem de Jeremias
34.1 - 22 Perdão para os escravos
35.1 - 19 Os recabitas fiéis
36.1 - 32 Jeoaquim rejeita as palavras de Jeremias
37.1 - 39.18 Os últimos dias de Judá
37.1 - 10 Ajuda do Egito?
37.11 - 21 A prisão de Jeremias
38.1 - 13 Jeremias é atirado numa cisterna
38.14 - 28 A última audiência com Zedequias
39.1 - 18 A queda de Jerusalém
40.1 - 45.4 O remanescente do povo foge para o Egito
40.1 - 12 Gedalias como governador
40.13 - 41.18 O assassinato de Gedalias
42.1 - 21 "Não entreis no Egito"
43.1 - 13 Ao Egito
44.1 - 14 O apelo final
44.15 - 30 "Não te obedeceremos a ti"
45.1 - 5 Uma palavra para Baruque
46.1 - 51.64 Profecias contra as nações
46.1 - 28 Contra o Egito
47.1 - 7 Contra os filisteus
48.1 - 47 Contra Moabe
49.1 - 39 Profecias mais curtas
50.1 - 51.64 Contra a Babilônia
O profeta paga um preço por ser fiel à mensagem que recebe da parte de Deus. Muitas vezes este preço é mesmo alto: "Assim pegaram Jeremias e o jogaram na cisterna de Malquias, filho do rei, a qual ficava no pátio da guarda. Baixaram Jeremias por meio de cordas para dentro da cisterna. Não havia água na cisterna, mas somente lama; e Jeremias afundou na lama" (Jeremias 38.6).
Esse texto mexe com o meu coração. Por que um profeta fiel ao Senhor precisou sofrer tanto? Depois de ficar muitos dias preso na casa do calabouço (37.16), Jeremias recebe um castigo ainda pior: é lançado num poço escuro e cheio de lama. Mas antes de ser lançado ali, ele faz a seguinte pergunta ao rei Zedequias: "Que crime cometi contra você ou contra os seus conselheiros ou contra este povo para que você me mandasse para prisão?" (Jeremias 37.18). Seu crime foi dizer a verdade. Todos somos profetas onde Deus nos coloca. Quantos missionários (profetas) ao redor do mundo pagam com a própria vida por assumirem um compromisso com verdade?
Talvez não sejamos lançados numa cova cheia de leões como Daniel, ou num poço cheio de lama como Jeremias, mas seja qual for a circunstância, Deus espera que sejamos fiéis. Lembro-me das palavras de Jesus em sua exortação à Igreja de Esmirna: "Não tenha medo do que você está prestes a sofrer. O Diabo lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida" (Apocalipse 2.10). Temos sido profetas onde Deus nos colocou?
O livro de Jeremias é repleto de narrativas e experiências extraordinárias vividas pelo profeta. Difícil escolher uma. Mas o texto que me sensibiliza é aquele que fala da sua visita à casa do oleiro: "Mas o vaso de barro que ele estava formando estragou-se em suas mãos; e ele o refez, moldando outro vaso de acordo com a sua vontade. Então o Senhor dirigiu-me a palavra: "Oh comunidade de Israel, será que eu não posso agir com vocês como fez o oleiro?, pergunta o Senhor. "Como barro nas mãos do oleiro assim são vocês nas minhas mãos, ó comunidade de Israel" (Jeremias 18.4-6).
O primeiro fato que chama a minha atenção é a maneira como Deus convoca Jeremias: "Vá à casa do oleiro e lá você ouvirá a minha mensagem" (Jeremias 18.2). Deus nos fala onde, como e quando ele quer. O primeiro passo é a obediência. Um segundo fato que chamou a minha atenção nesse texto, é que Deus age de muitas maneiras. Jeremias precisa aprender sobre o ofício do oleiro. Primeiramente, Deus lhe mostrou o que gostaria de fazer na sua vida e na vida do povo, para depois lhes dizer o que queria que fizessem.
Muitas vezes, queremos ouvir a voz de Deus a respeito de uma determinada situação antes mesmo de saber o que Deus quer de nós. O barro só pode ser moldado enquanto estiver fresco. Depois de endurecer, qualquer impacto acaba quebrando-o. A grande lição que aprendemos na visita de Jeremias à casa do oleiro, é que Deus quer nos moldar antes de nos punir. Se endurecemos, pagaremos o preço pela desobediência. Se nos deixamos moldar, seremos abençoados.
O capítulo final de Jeremias é como uma repetição de 2Reis 24.18-20 e 25.1-21, 25-30. Relata o estado de sítio e a captura de Jerusalém, a prisão do rei Zedequias e a reabilitação de Joaquim. Muitos comentaristas consideram esse capítulo uma adição ao livro, com o propósito de mostrar que as profecias de Jeremias se cumpriram. Jerusalém foi tomada e queimada, o rei Zedequias foi preso e seus filhos foram mortos como Jeremias profetizou.

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