Os primeiros capítulos de Ezequiel são alguns dos mais impressionantes na Bíblia. Ezequiel
estava no exílio, num ambiente que poderia ter sido deprimente para este jovem sacerdote,
mas ele foi levado numa visão à presença do Senhor. Ele se esforça para achar as palavras
para descrever as imagens que lhe foram apresentadas e consegue pintar um quadro em palavras
que ainda cria nos leitores a admiração que ele sentiu pela glória de Deus.
Mas a visão de Deus não foi dada apenas para satisfazer algum anseio humano. Esta visão serviu
para passar para Ezequiel a sua tarefa de proclamar a mensagem de Deus ao povo rebelde de
Israel. Ele recebeu as instruções para agir com resistência e uma cabeça dura, cumprindo fielmente
seu papel como o atalaia da casa de Israel. Da chamada de Ezequiel, podemos aprender muito
sobre a seriedade do nosso trabalho na divulgação do evangelho hoje.
I. A Visão da Glória de Deus (1:1-28)
A. A introdução ao livro (1:1-3)
1. No 30º ano (provavelmente da vida de Ezequiel – veja os comentários na introdução
deste estudo, páginas 3 e 4), Ezequiel teve visões de Deus
2. Ele estava entre os exilados de Judá, no território babilônico junto ao rio Quebar
3. A referência mais específica do versículo 2 identifica a data inicial do trabalho de
Ezequiel como 593 a.C., o quinto ano do cativeiro de Joaquim
4. Ezequiel, cujo nome significa “Deus fortalecerá”, era um sacerdote
B. Um vislumbre da glória de Deus (1:4-28)
1. É importante lembrar que Ezequiel nos dá uma imagem visual. Devemos focalizar a
imagem toda, e não nos perdermos com pormenores
2. Inicialmente, ele viu a imagem chegando de um lugar distante (1:4). Ele a descreve
como um vento tempestuoso e uma grande nuvem envolvida em fogo com uma luz
brilhante irradiando do meio dela
3. Quando a nuvem se aproxima, ele a descreve com mais detalhes (1:5-28)
a. A semelhança de quatro seres viventes saía do meio da nuvem (1:5; cf. Apocalipse
4:6-9)
1) Cada ser vivente tinha quatro rostos – de homem, leão, boi e águia (1:6,10)
2) Cada um tinha quatro asas (1:6,11; cf. Isaías 6:2; Apocalipse 4:8)
3) Eles tinham quatro pernas direitas, que pareciam com pés de um bezerro feitos
de bronze polido (1:7)
4) Tinham mãos de homem nos quatro lados, debaixo das asas (1:8)
5) Tinham a aparência de tochas, fogo e relâmpagos (1:13,14)
6) Cada ser tinha uma roda que parecia com uma roda dentro da outra (1:15-21)
a) Com estas rodas, os seres viventes movimentavam-se em qualquer direção
sem a necessidade de se virarem (1:17,9,12,14,20)
b) O movimento deles não estava restrito a terra; também se elevavam da
terra (1:19,21)
c) As rodas tinham olhos ao redor (1:18; cf. Apocalipse 4:8)
7) Quando consideramos estes seres viventes, junto com as referências relevantesO Atalaia de Israel 7
em outras passagens, podemos chegar a algumas conclusões:
a) Que estes seres são de uma posição muito alta, talvez as maiores
criaturas no céu. Parece que sempre estão na presença imediata de Deus,
totalmente dedicados ao serviço dele
b) Que eles têm uma relação com o mundo inteiro. As descrições dos seres
viventes e de suas posições sugerem a capacidade deles em enxergar tudo
e movimentar-se livremente em qualquer direção. Tais capacidades
enfatizam os atributos divinos de onisciência e onipresença
b. Os seres viventes evidentemente apóiam uma plataforma (firmamento) com a
aparência de cristal brilhante (1:22; cf. Êxodo 24:10; Apocalipse 4:6)
1) Quando movimentaram este firmamento, fizeram um barulho forte, sugerindo
o poder da voz de Deus (1:24)
2) De cima do firmamento, veio uma voz (1:-24-25). Ezequiel não diz
especificamente que era a voz de Deus, mas o contexto e a descrição seguida
do trono sugere claramente ser a voz do Senhor. Quando a voz falou, os seres
viventes se mostraram totalmente sujeitos à autoridade divina
c. Quando Ezequiel olha para cima do firmamento, ele vê a imagem maravilhosa da
presença de Deus. Ele parece incapaz ou hesita em olhar bem para a pessoa em
cima do trono (1:26-28)
1) Uma figura parecida com um homem estava sentada no trono
2) O resplendor de fogo e metal brilhante emanava do trono. O resplendor era
semelhante a um arco-íris ao redor do trono (cf. Apocalipse 4:3)
d. Ezequiel foi consumido com reverência, talvez com medo, quando viu a aparência
da glória de Deus. Ele caiu com o rosto em terra até ouvir a voz de Deus (cf. Daniel
8:17-18)
II. Deus Envia Ezequiel para Pregar ao Povo de Israel (2:1 - 3:15)
A. A chamada de Ezequiel veio quase 130 anos depois da queda do reino do Norte, que foi
conhecido como Israel. Até este período, o termo Israel estava sendo usado novamente
para se referir em geral ao povo escolhido de Deus. O trabalho de Ezequiel seria
principalmente relacionado ao povo de Judá, o reino do Sul, especialmente aos judeus que
haviam sido levados ao cativeiro na Babilônia
B. O Espírito de Deus pôs Ezequiel em pé para ouvir as instruções de Deus (2:1-2). Deus
chama Ezequiel de “Filho do homem” (2:1)
1. Esta expressão aparece 93 vezes em Ezequiel, quase a metade das ocorrências dela
em toda a Bíblia. No Antigo Testamento, aparece poucas vezes antes de Ezequiel (nos
livros de Jó, Salmos e Isaías) e duas vezes em Daniel. No Novo Testamento, se
tornou uma descrição comum de Jesus nos quatro relatos do evangelho, e aparece
raramente no resto do Novo Testamento (cf. Atos 7:56; Hebreus 2:6; Apocalipse 1:13;
4:14)
2. Em Ezequiel, este termo mostra a posição do profeta como homem em contraste
evidente com Deus. É uma expressão referente à humanidade do profeta,
subordinado claramente ao Criador – o Soberano Deus
C. Deus instrui Ezequiel a ser forte na sua tarefa de enfrentar o povo rebelde e teimoso da
casa de Israel (2:3 - 3:15)
1. O fato de Deus dirigir a mensagem “à casa de Israel” tem sido usado por alguns
para concluir que Ezequiel deve ter pregado em Jerusalém. Mas, este fato não é
suficiente para chegar a tal conclusão, por vários motivos:
a. Uma boa parte da casa de Israel já tinha sido deportada à Babilônia, e foi
totalmente apropriado para Deus dirigir sua mensagem a esses exilados (3:11)8 Estudo do Livro de Ezequiel
b. Outras pessoas poderiam ter levado a mensagem de Ezequiel a Jerusalém sem o
próprio profeta chegar ao local
c. Todas as referências no livro ao local colocam Ezequiel entre os cativos na
Babilônia. Simplesmente não há base no livro para dizer que ele tenha voltado para
Jerusalém
2. Ezequiel recebeu a responsabilidade de pregar, independente da reação ou resposta
do povo à mensagem (2:3-7)
3. Deus, então, deu-lhe uma ordem – de comer um rolo (livro) – com a advertência de
não se mostrar rebelde como a casa de Israel (2:8 - 3:3)
a. Nos dois lados do rolo foram escritas palavras de lamentações, suspiros e ais.
Assim, Deus revelou de antemão a natureza da missão de Ezequiel
b. O sabor era doce, como mel (cf. Apocalipse 10:8-11)
c. Ezequiel, como outros profetas, aceitou a responsabilidade de pregar a palavra,
reconhecendo sua obrigação de falar (cf. 3:10; Jeremias 20:9; Atos 4:20)
4. Ezequiel foi enviado para pregar as palavras de Deus (3:4; cf. 3:1) à casa de Israel, com
plena compreensão do fato que ele seria rejeitado pelos seus compatriotas (3:4-11)
5. A visão terminou com a saída de Deus da mesma maneira que ele havia chegado
(3:12-13)
6. Ezequiel voltou ao seu lugar entre os exilados em Tel-Abibe (3:14-15)
a. Ele sentiu amargura e excitação no seu espírito. Há várias explicações possíveis:
1) Raiva ou ressentimento por ter recebido uma tarefa tão difícil sem esperança
de aceitação pelo povo
2) Frustração por não ter mais a visão da glória de Deus
3) Um sentimento forte de indignação e justiça, compartilhando da ira de Deus
para com o povo pecaminoso de Israel. Esta explicação parece ser a melhor em
relação ao texto e em comparação com as experiências de outros profetas (cf.
Jeremias 6:11 e considere a amargura da missão de João em Apocalipse 10:8-
11)
b. Depois da sua grande visão, Ezequiel ficou esgotado emocionalmente e assentouse, atônito, em Tel-Abibe
III. O Papel de Ezequiel como Atalaia de Israel (3:16-27)
A. A idéia de um profeta servir como vigia ou sentinela para avisar o povo de perigo iminente
não foi nova em Ezequiel. Encontramos a mesma imagem em profetas anteriores (Isaías
56:10; Oséias 9:8; Habacuque 2:1)
B. Ezequiel recebeu a tarefa de avisar o povo das conseqüências dos seus atos
1. Se ele cumprisse este dever, ele viveria, independente da resposta dos ouvintes à
palavra
2. Se ele negligenciasse a sua responsabilidade e ficasse quieto sobre o pecado dos
outros, ele seria culpado pelo sangue dos condenados
C. Deus impeliu o profeta ao vale, onde falou com ele outra vez (3:22-27)
1. Mandou que Ezequiel se fechasse na sua casa, como se estivesse preso
2. Deus falou que o profeta ficaria mudo, podendo falar para o povo somente quando o
Senhor o determinasse (cf. 1 Pedro 4:11). Pode ser que o silêncio de Ezequiel tenha
sido eventual, alternando momentos em que Deus mandasse Ezequiel ora falar ora
calar-se
Conclusão: Não é de admirar que Ezequiel tenha ficado atônito durante uma semana depois da
visão da glória de Deus! Ezequiel e os exilados de Judá devem ter sentido desespero quando
ficaram afastados do templo, mas o profeta teve a consolação de ver o verdadeiro templo do DeusO Atalaia de Israel 9
vivo! Mas ninguém se aproxima de Deus sem encarar as suas responsabilidades. A visão destes
capítulos serviu para ajudar Ezequiel a apreciar melhor o caráter de Deus e para se preparar para
sua tarefa de pregar à casa rebelde de Israel.
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Deus Abençôe