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epois da experiência marcante de seu encontro com Deus, Ezequiel começa agora seu
trabalho difícil como atalaia da casa teimosa de Israel. Esta mensagem do princípio do seu
trabalho, uma das mais memoráveis de seu ministério, foi apresentada dramaticamente
como uma série de ações em volta de um modelo em miniatura da cidade de Jerusalém. Durante
este período de mais de um ano, não há registro de comunicação verbal entre Ezequiel e o povo,
talvez em cumprimento imediato das palavras faladas por Deus no vale perto de Quebar (cf. 3:25-
26) .
Encontramos algumas dificuldades nestes capítulos que não serão resolvidas com certeza absoluta.
Tais desafios, porém, não devem ocultar a mensagem básica tão poderosamente apresentada
nestes primeiros avisos do profeta Ezequiel sobre a nação de Israel.
I. Ezequiel Representa o Cerco de Jerusalém de Maneira Dramática (4:1 - 5:4)
A. Deus mandou que Ezequiel usasse um tijolo para representar a cidade de Jerusalém e que
cercasse esta “cidade” (4:1-3). Desta maneira, ele representa Deus no ato de trazer
julgamento contra o povo de Israel
B. Na segunda parte desta apresentação, Deus mandou que Ezequiel assumisse o papel do
povo rebelde no sofrimento pelas conseqüências de suas iniqüidades (4:4-17)
1. Ele deitaria sobre seu lado esquerdo por 390 dias para simbolicamente levar sobre si
o pecado do povo de Israel durante 390 anos (4:4-5)
2. Depois, ele deitaria sobre seu lado direito por 40 dias, simbolicamente levando sobre
si a culpa do povo de Judá durante 40 anos
3. A explicação dada no versículo 7 – “cada dia por um ano” – é uma chave para a
interpretação desta profecia, e se torna útil para compreender melhor alguns outros
símbolos bíblicos. O conceito de simbolizar um ano com um dia não se originou com
Ezequiel (cf. Números 14:34)
4. A cronologia destes símbolos apresenta algumas dificuldades que têm sido abordadas
de diversas maneiras por comentaristas. Entre as dificuldades:
a. O tempo do castigo simbólico de Israel:
1) 390 dias, como no Texto Massorético?
2) Ou 190 dias, como na LXX?
b. Se os períodos de 390 e 40 seriam sucessivos, ou se os dois períodos terminariam
no mesmo ponto
c. Se os períodos representaram os tempos da iniqüidade dos povos, ou os tempos
de castigo em conseqüência da sua iniqüidade
d. Os pontos iniciais e terminais dos períodos
e. Se os números devem ser entendidos como literais e precisos, ou como valores
aproximados ou redondos
5. Diversas explicações podem ser encontradas em vários comentários. Talvez a
interpretação mais plausível fosse explicar os termos de 390 e 40 anos como períodos
aproximados e ver a profecia no seu contexto. Ezequiel enfatiza a presença da glória
de Deus (cf. capítulos 1, 8, 10, 48, etc.), e assim podemos entender que o castigo deO Atalaia de Israel 11
uma nação começa quando ela foi separada da presença de Deus, representada no
templo de Jerusalém
a. Para o reino do Norte (Israel), isso aconteceu pouco depois da morte de Salomão
(cerca de 933 a.C.). O tempo de 933 até 539 (quando o decreto de Ciro permitiu
a volta dos judeus a Jerusalém para reconstruir o templo) seria de
aproximadamente 394 anos
b. Para o reino do Sul (Judá), o castigo (afastamento do templo em Jerusalém) seria
da destruição do templo (586 a.C.) até o decreto de Ciro (539 a.C.), um período
de 47 anos
c. Nos dois casos, os totais aproximam-se dos períodos da profecia. Deus pode ter
usado números redondos para representar os dois períodos de afastamento por
causa do pecado dos povos
d. Esta é apenas uma possibilidade. Outros que estudam o trecho no seu contexto
podem apresentar outras explicações
6. Durante esta dramatização, Ezequiel comeria quantidades mínimas de comida, apenas
o suficiente para manter a vida (4:9-17)
a. Sua porção diária foi de aproximadamente 230 gramas de pão (4:9-10)
b. Bebia um pouco menos de 600 mililitros de água por dia (4:11)
c. A dieta de Ezequiel representava a falta de comida e água que o povo sofreria em
Jerusalém (4:16-17)
d. Para enfatizar ainda mais a imundícia do pecado de Israel, Deus instruiu Ezequiel
e cozinhar usando esterco de homem como combustível (4:12-13)
e. Ezequiel protestou, pois o uso do esterco de homem traria imundícia sobre ele
(4:14)
f. Em resposta ao protesto do profeta, Deus permitiu que usasse esterco de vacas
que, aparentemente, não seria considerado imundo (4:15)
C. Ezequiel usou seus próprios cabelos para predizer o destino de Jerusalém (5:1-4)
1. Deus mandou que ele repassasse o cabelo e a barba e dividisse os cabelos em três
partes
2. Uma parte seria queimado no meio da cidade, representando as pessoas que seriam
mortas no cerco
3. A segunda parte seria ferida com a espada, representando aqueles que morreriam na
batalha
4. A última parte seria espalhada
a. Desta última parte, alguns ainda morreriam pela espada
b. Outros seriam queimados
c. Alguns destes evidentemente iriam sobreviver a destruição de Jerusalém
II. A Palavra Falada Reforça a Dramatização de Ezequiel (5:5-17)
A. Se estas palavras fossem faladas por Ezequiel (que parece ser o caso), marcariam o fim de
seu período de silêncio. Agora ele fala claramente o sentido de sua apresentação dramática
B. Devido à desobediência do povo, Jerusalém seria julgada diante das nações (5:5-8)
C. O juízo divino seria especialmente severo (5:9)
1. A linguagem deste versículo obviamente descreve um terrível sofrimento, mas deve ser
compreendido como um exemplo de hipérbole
2. Não devemos insistir em uma interpretação literal, pois contradiria outras passagens
que fazem afirmações semelhantes de um sofrimento sem igual (considere os
seguintes exemplos: Jeremias 30:7; Lamentações 1:12; 2:13; Daniel 9:12; Mateus
24:21)
D. A dramatização de Ezequiel predisse a realidade dura que esperava Jerusalém (5:10-17)12 Estudo do Livro de Ezequiel
1. Um terço morreria de peste e de fome durante um cerco tão severo que alguns
chegariam a praticar o canibalismo (cf. Levítico 26:29; Deuteronômio 28:53; 2 Reis
6:28-29; Jeremias 19:9; Lamentações 4:10)
2. Outro terço morreria pela espada
3. O restante (a outra terça parte) seria espalhado aos ventos e perseguido com a espada
4. Além destas formas de castigo e sofrimento, bestas-feras são mencionados em 5:17
(cf. Deuteronômio 32:23-25; Apocalipse 6:8; Jeremias 15:2-3)
III. Ezequiel Avisa sobre o Julgamento de Israel em Conseqüência de sua Idolatria
(6:1-14)
A. Deus prometeu destruir com violência o povo idólatra e os objetos de sua falsa adoração
(6:1-7)
B. Alguns escapariam da morte para serem levados ao cativeiro (6:8-10)
1. Este grupo é descrito como um resto (ou remanescente)
2. O propósito do cativeiro era trazer o povo ao verdadeiro arrependimento e à
reconciliação com Deus
3. Se o cativeiro chegasse a esse resultado, não seria em vão
C. Por detestar tanto a idolatria, Deus destruiria a idolatria e aqueles que a praticavam,
estivessem pertos ou distantes (6:11-14)
IV. “Haverá Fim!” – Ezequiel Avisa do Castigo Iminente (7:1-27)
A. Numa série repetitiva de avisos, Ezequiel afirma que a queda de Jerusalém estava próxima
1. Como observamos ao longo do livro de Ezequiel e no livro de Jeremias, o povo em
geral não acreditava que Deus destruiria nem permitiria a destruição de Jerusalém
2. É provável que esta incredulidade fosse o motivo dos avisos repetidos neste trecho
B. Em linguagem semelhante aquela empregada por Amós 150 anos antes (Amós 8:2),
Ezequiel agora repete para Jerusalém: “O fim vem” (7:2,3,6,etc.)
C. A abrangência desta destruição é enfatizada na linguagem destes versículos
1. Todas as partes da terra – os quatro cantos (7:2)
2. Deus traria sua ira contra o povo e não o pouparia (7:3,4,8,9)
3. Quando chegasse este dia terrível, o povo saberia que era o juízo de Deus (7:9)
D. Novamente usando as figuras de fome, peste e a espada, Ezequiel prediz o julgamento
completo que viria sobre o povo (7:10-15)
E. No seu desespero, o povo não acharia refúgio (7:16-19)
1. Aqueles que escapassem não encontrariam conforto nem alívio do horror de sua
aflição
2. Não conseguiriam comprar segurança nem comida durante este período de
julgamento divino
F. Deus entregaria os ídolos preciosos deles aos inimigos do povo (7:20-21)
G. Certamente teria sido ainda mais chocante para o povo ouvir Deus dizer que deixaria seu
lugar santo ser profanado (7:22)
H. O povo buscaria, em vão, uma orientação e um alívio do seu sofrimento (7:23-27)
1. A terra estava cheia de crimes que mereciam o castigo (7:23)
2. Deus traria os piores das nações para castigar o seu povo (7:24; cf. o questionamento
de Habacuque 1:13)
3. Enfrentando a destruição, eles buscariam a paz, mas não a achariam (7:25)
4. Eles procurariam orientação espiritual, mas não a receberiam dos líderes espirituais
(7:26)
5. Nem os governantes teriam respostas (7:27)
6. O castigo viria, e Deus seria exaltado (7:27)
Conclusão: Deus havia avisado Ezequiel que sua missão seria difícil. As primeiras tarefas do
profeta certamente foram suficientes para provar este aviso! A sua primeira mensagem tomou a
forma de uma cena dramática em que o profeta sofreu grande privação. Logo em seguida, ele
transmitiu uma mensagem de um destino infeliz, repetindo diversas vezes o refrão de lamentação,
“Haverá fim, o fim vem”. É provável que Ezequiel fosse identificado pelo povo, logo no início
do seu ministério, como um profeta esquisito e pessimista. Para uma nação que, durante muito
tempo, havia ignorado e rejeitado os apelos de Deus para seu arrependimento, tal mensagem de
um fim horrível foi necessária. Como um atalaia fiel, Ezequiel avisou o povo que estava andando
no caminho que levaria à morte.
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Deus Abençôe