4/09/2011

Ezequiel 40:1 - 42:20

I. Observações Importantes para Guiar a Interpretação dos Últimos Nove Capítulos
de Ezequiel
A. Ezequiel falou do templo literal em Jerusalém que seria construído após o cativeiro na
Babilônia?
1. Algumas interpretações tratam este trecho como a planta para a construção do templo
depois do exílio
2. Problemas com esta interpretação incluem:
a. A idéia de uma aplicação literal e histórica (na época antes de Cristo) sugere uma
falha óbvia e grande, pois o templo construído por Zorobabel e outros não se
apoxima das medidas e descrições destes capítulos. Se for literal, alguém falhou!
i. Ou Ezequiel falhou em fazer uma profecia que não foi cumprida. Esta
explicação levanta sérias questões sobre a inspiração do livro
ii. Ou Zorobabel e os outros construtores falharam em não seguir a planta
revelada por Deus por meio de Ezequiel
b. Mas os relatos da reconstrução do templo não sugerem falha, nem pelo profeta,
nem pelos construtores. Deus mostrou a sua alegria com o novo templo e a
aceitação dos esforços dos construtores (cf. Ageu 2:3-4,19; Esdras 6:13-18,22)
3. Devemos rejeitar a interpretação literal histórica, porque ela não concorda com as
evidências bíblicas
B. Ezequiel falou de um templo literal que ainda será construído no futuro?
1. Algumas das interpretações mais comuns nos dias de hoje esperam o cumprimento
literal destas profecias num reino milenar futuro
2. Além das observações gerais sobre o pré-milenarismo apresentadas na lição 13,
notamos alguns outros problemas na aplicação desta interpretação aos últimos 9
capítulos de Ezequiel:
a. Este trecho fala claramente de sacrifícios de animais pelo pecado (40:38-43; 45:18-
25; 46:1-15). A aplicação literal deste trecho a um reino futuro enfrenta o problema
sério de defender sacrifícios de animais pelo pecado milhares de anos depois da
morte de Jesus, ou de abandonar o literalismo em alguns pontos. Considere o
dilema dos pré-milenaristas:
i. Se aceitar a noção dos sacrifícios serem literais, negam a eficácia e suficiência
do único sacrifício de Jesus Cristo (cf. Hebreus 9:11-15,24-28; 10:1-18)
ii. Se afirmar que os sacrifícios em Ezequiel são simbólicos, o sistema de
interpretação literal começa a desmoronar. Se os sacrifícios são simbólicos, as
medidas podem ser simbólicas, e o próprio templo pode ser simbólico, etc.
b. Os últimos capítulos do livro falam em festas e comemorações do Antigo
Testamento que foram meras sombras das coisas do reino de Cristo e que já
perderam seu significado no Novo Testamento. Encontramos referências às
celebrações anuais, mensais e semanais (45:18 - 46:8), exatamente as celebrações64 Estudo do Livro de Ezequiel
que Paulo descreveu como sombra das coisas que haveriam de vir em Cristo
(Colossenses 2:16-17). Novamente, os pré-milenaristas enfrentam um problema:
i. Se aceitarmos que estas celebrações são literais, estaríamos voltando da luz à
sombra, da liberdade à escravidão, do espírito que vivifica à letra que mata!
ii. Se reconhecer que a linguagem de Ezequiel, nestes pontos, é figurada e
simbólica, como justificar a interpretação literal de outros pontos do mesmo
trecho?
c. Estes capítulos falam de sacerdotes levitas que entram no santuário de Deus
(44:15-16; 48:11). Este fato apresenta mais um problema para a interpretação
“literal” dos pré-milenaristas.
i. Se aceitarmos que os sacerdotes literalmente são os levitas da família de
Zadoque, como explicaríamos:
a) O sacerdócio de todos os crentes? (1 Pedro 2:9)
b) O sacerdócio eterno de Jesus Cristo, que não era levita? (Hebreus 7:11-14)
ii. Os pré-milenaristas realmente acreditam num reino terrestre no qual o próprio
Jesus não seria mais o sumo sacerdote? Considere Hebreus 8:4
iii. Se admitirmos que as referências em Ezequiel aos sacerdotes levitas são
simbólicas e figuradas, como justificar a interpretação literal das outras coisas
nestes mesmos capítulos?
d. Há várias dificuldades na interpretação literal das medidas do templo. Por exemplo,
em vários versículos, a LXX dá as medidas em côvados, enquanto o Texto
Massorético as dá em canas ou não inclui a medida em si, só o número.
i. Este fato leva a diferenças nas traduções de versículos como 42:16:
a) A RA2, seguindo o Texto Massorético, traz “quinhentas canas”, que seria,
literalmente, quase 1,6 km.
b) A NTLH e a NVI, seguindo a LXX, trazem “duzentos e cinqüenta metros”
ii. O problema fica maior quando chegamos aos limites das tribos, onde a LXX
fala de uma área de 25.000 x 20.000 côvados (45:1; 48:9), e o Texto
Massorético traz 25.000 x 10.000 sem especificar a medida. Se for côvados
(como interpretado em várias traduções) seria uma área de 5 x 13 km. Mas, se
a medida for canas, como no Texto Massorético em 42:16, daria uma área de
32 x 80 km só para a região santa dos sacerdotes, e se tornaria impossível
posicionar tudo que é descrito nestes capítulos dentro dos limites geográficos
da Palestina
C. Ezequiel falou, usando linguagem simbólica, do reino messiânico espiritual que seria
estabelecido por Jesus Cristo? Esta é a abordagem que respeita o estilo e contexto de
Ezequiel e o ensinamento do resto da Bíblia. Consideremos alguns motivos que nos levam
a aplicar estas passagens simbólicas ao reino de Cristo que existe atualmente e existirá para
sempre
1. O texto destes últimos capítulos não admite uma interpretação literal. Além dos
exemplos citados acima, consideremos:
a. Qualquer interpretação literal já enfrenta problemas no primeiro versículo do
capítulo 40. Ezequiel foi levado a Jerusalém no ano 572 a.C. quando o templo,
literalmente, estava em ruínas. Necessariamente, começamos com uma
interpretação simbólica
b. Estrangeiros e incircuncisos de carne são excluídos do santuário de Deus (44:7-9).
Se for literal, teríamos que rejeitar tudo que o Novo Testamento ensina sobre a
abrangência universal do evangelho (Romanos 1:16; Gálatas 3:28; etc.)
2. O contexto de Ezequiel apóia a interpretação espiritual e simbólica que olha para a
comunhão dos fiéis com Deus no reino messiânicoO Atalaia de Israel 65
a. Dois dos principais temas do livro têm sido a comunhão com Deus e a
responsabilidade individual, temas que seriam aperfeiçoados no evangelho de
Jesus
b. A ênfase num santuário puro e adequado para a habitação de Deus ajusta-se
perfeitamente aos temas sobre o santuário espiritual do Novo Testamento
c. As profecias sobre o pastor/rei Davi do Antigo Testamento são aplicados no Novo
Testamento ao reinado atual de Jesus (34:23-24; 37:24-26; cf. Atos 2:29-36;
13:32-37; Hebreus 1:3-13; 2:9)
d. A linguagem simbólica do livro desde o início nos preparou para interpretar estes
últimos capítulos como descrições figuradas de verdades espirituais. Seria um
grave erro tentar forçar uma interpretação literal destes capítulos
D. A abordagem aos últimos capítulos neste estudo será uma aplicação da linguagem
simbólica do profeta ao reino messiânico que foi estabelecido por Jesus Cristo e que existe
atualmente
1. Enquanto as palavras “reino” e “igreja” têm significados diferentes e enfatizam
características diferentes do povo de Deus, os dois termos se referem ao povo que
serve a Jesus atualmente
a. João Batista, Jesus Cristo e os apóstolos pregaram sobre o reino que já estava
próximo (Mateus 3:2; 4:17; 10:7)
b. Jesus falou da igreja e do reino no mesmo contexto (Mateus 16:18-19)
c. A igreja é mencionada freqüentemente no livro de Atos e nas epístolas
d. A igreja de Corinto foi composta de santos (1 Coríntios 1:2)
e. Os santos foram transportados para o reino de Jesus (Colossenses 1:12-13)
2. Nos últimos capítulos do seu livro, Ezequiel emprega linguagem simbólica enraizada
nas práticas da lei conhecidas pelos judeus para falar sobre a relação especial de
comunhão com Deus no reino espiritual de Jesus

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