Depois da derrota do império babilônico e sua conquista pelos persas em 539 a.C., a sede do govero dos exilados passou à Pérsia. A capital Susã, é o palco da história de Ester, durante o reinado de do rei Assuero (seu nome hebraico, também chamadao Xerxes I (seu nome grego) ou Khshyarshan ( seu nome persa), que reinou entre 486-465 a.C..O livro de Ester abarca os anos 483-473 do reinado de Assueiro.
De maneira simples, eis aqui a história de Assuero, rei da Pérsia, tido por alguns como Xerxes I, cuja esposa desobediente, Vasti, é substituída pela judia Ester, prima de Mordecai. O agagita Hamã trama a morte de Mordecai e de todos os judeus, mas é enforcado em sua própria estaca, ao passo que Mordecai é promovido ao cargo de primeiro-ministro e os judeus são libertados.
Naturalmente, há os que dizem que o livro de Ester não é nem inspirado nem proveitoso, mas simplesmente uma bela lenda. Baseiam sua afirmação na ausência do nome de Deus. Embora seja verdade que Deus não é mencionado diretamente, parece haver no texto hebraico quatro casos distintos de acrósticos do Tetragrama, as letras iniciais de quatro palavras sucessivas que formam YHWH. Estas iniciais são destacadas de modo especial em pelo menos três manuscritos hebraicos antigos, e são também marcadas na Massorá com letras vermelhas.
No decorrer do registro todo há forte evidência de que Mordecai tanto aceitava a lei de Deus como obedecia a ela. Negou-se a curvar-se para honrar um homem que provavelmente era amalequita; Deus determinara o extermínio dos amalequitas. (Est. 3:1, 5; Deut. 25:19; 1 Sam. 15:3) A expressão de Mordecai em Ester 4:14 indica que aguardava uma libertação da parte de Deus e que tinha fé na direção divina do inteiro curso dos eventos. O jejum de Ester, junto com a ação similar dos demais judeus, durante três dias antes de esta entrar perante o rei, indica confiança em Deus. (Est. 4:16) Que Deus manobrou os eventos é indicado por Ester achar favor aos olhos de Hegai, o guardião das mulheres, e pela insônia do rei na noite em que pediu para ver os registros oficiais e descobriu que Mordecai não fora honrado pelo seu bom feito no passado. (Est. 2:8, 9; 6:1-3; compare com Provérbios 21:1.) Há, sem dúvida, referência a orações nas palavras “os assuntos dos jejuns e de seu clamor por socorro”. — Est. 9:31.
Muitos fatos comprovam o registro como autêntico e fatual. Era aceito pelo povo judeu, que chamava o livro simplesmente de o Meghil·láh, que significa “rolo; rolo escrito”. Parece ter sido incluído no cânon hebraico por Esdras, que certamente teria rejeitado uma fábula. Os judeus guardam até hoje a festa de Purim, ou Sortes, celebrando a grande libertação do tempo de Ester. O livro apresenta modos e costumes persas de forma realística, e em harmonia com os fatos conhecidos da história e as descobertas arqueológicas. Por exemplo, o livro de Ester descreve com exatidão o modo de os persas honrarem um homem. (6:8) Escavações arqueológicas revelaram que as descrições do palácio do rei, conforme apresentadas no livro de Ester, são exatas até nos mínimos detalhes. — 5:1, 2.
Nota-se essa mesma exatidão também no próprio relato, na maneira cuidadosa em que menciona os oficiais e os assistentes da corte, fornecendo até mesmo o nome dos dez filhos de Hamã. A linhagem de Mordecai e Ester é remontada a Quis, da tribo de Benjamim. (2:5-7) Fazem-se referências aos registros oficiais do governo persa. (2:23; 6:1; 10:2) A linguagem do livro é o hebraico posterior, com o acréscimo de muitas palavras e expressões persas e aramaicas, cujo estilo combina com o de Crônicas, Esdras e Neemias, harmonizando-se assim inteiramente com o período em que foi escrito.
Acredita-se que os eventos de Ester se desenrolam nos dias em que o poderoso império persa encontrava-se no seu apogeu, e que abrangem cerca de 18 anos do reinado de Assuero (Xerxes I). O período que se estende até cerca de 473 a.C. é indicado pelo testemunho de fontes gregas, persas, e babilônicas. Mordecai, testemunha ocular e um dos principais personagens do relato, foi, mui provavelmente, o escritor do livro; o relato íntimo e pormenorizado indica que o escritor deve ter vivenciado esses eventos no palácio de Susã. Embora não seja mencionado em nenhum outro livro da Bíblia, não há dúvida de que Mordecai foi personagem real da história. É interessante que se encontrou um texto cuneiforme não datado, descrito por A. Ungnad, da Alemanha, como se referindo a Mardukâ (Mordecai?) qual alto oficial da corte de Susa (Susã) durante o reinado de Xerxes I. Foi ali em Susã que Mordecai sem dúvida completou o registro dos eventos de Ester, assim que ocorreram, isto é, por volta de 473 a.C..
CONTEÚDO DE ESTER
Deposta a Rainha Vasti (1:1-22). É o terceiro ano do reinado de Assuero. Ele realiza um lauto banquete para os oficiais do seu império, mostrando-lhes as riquezas e a glória do seu reino durante 180 dias. A seguir, há um grandioso banquete de sete dias para todo o povo de Susã. Ao mesmo tempo, Vasti, a rainha, dá um banquete para as mulheres. O rei se jacta de suas riquezas e glória e, estando alegre com vinho, manda chamar Vasti para vir mostrar sua beleza ao povo e aos príncipes. A Rainha Vasti persiste em se recusar a ir. Seguindo o conselho dos oficiais da corte, que argumentam que este mau exemplo poderá fazer com que o rei perca prestígio em todo o império, Assuero remove Vasti da posição de rainha e emite documentos convocando todas as esposas a ‘dar honra a seu dono’ e todos os maridos a ‘agir continuamente como príncipes na sua própria casa’. — 1:20, 22.
Ester torna-se rainha (2:1-23). Mais tarde, o rei nomeia comissários para procurar as mais belas virgens em todas as 127 províncias do império e trazê-las a Susã, onde deverão receber um tratamento de beleza para serem apresentadas ao rei. Entre as jovens selecionadas acha-se Ester. Ester é órfã judia, “bonita de figura e bela de aparência”, que foi criada por seu primo, Mordecai, um oficial em Susã. (2:7) O nome judaico de Ester, Hadassa, significa “Murta”. Hegai, o guardião das mulheres, se agrada de Ester e lhe dá tratamento especial. Ninguém sabe que ela é judia, pois Mordecai instruiu-a a guardar sigilo sobre isso. As jovens são levadas à presença do rei, uma de cada vez. Ele seleciona Ester como sua nova rainha, e realiza-se um banquete para celebrar sua coroação. Pouco depois, Mordecai fica sabendo de uma conspiração para assassinar o rei, e manda Ester informá-lo disso “em nome de Mordecai”. (2:22) A trama é descoberta, e os conspiradores são enforcados, fazendo-se registro disso nos anais reais.
A conspiração de Hamã (3:1–5:14). Decorrem cerca de quatro anos. Hamã, pelo visto descendente do rei amalequita Agague, a quem Samuel matou, torna-se primeiro-ministro. (1 Sam. 15:33) O rei o exalta e ordena que todos os seus servos no portão do rei se curvem diante de Hamã. Estes incluem Mordecai. Entretanto, Mordecai recusa-se a fazer isso, tornando conhecido aos servos do rei que ele é judeu. (Compare com Êxodo 17:14, 16.) Hamã fica cheio de furor, e, ao descobrir que Mordecai é judeu, vê nisto a grande oportunidade de se livrar de Mordecai e de todos os judeus de uma vez por todas. Lança-se a sorte (pur) para determinar um bom dia para aniquilar os judeus. Hamã, valendo-se do seu favor junto ao rei, acusa os judeus de serem anárquicos e pede que a destruição deles seja ordenada por escrito. Hamã oferece uma contribuição de 10.000 talentos de prata (o equivalente a cerca de US$ 66.060.000) para financiar a matança. O rei consente, e enviam-se a todo o império ordens escritas seladas com o anel do rei, marcando o dia 13 de adar para o genocídio dos judeus.
Ao saberem da lei, Mordecai e todos os judeus pranteiam de serapilheira e cinzas. Há “jejum, e choro, e lamento”. (Est. 4:3) Ao ser informada por Mordecai sobre a situação crítica dos judeus, Ester hesita, de início, em interceder. A penalidade por comparecer perante o rei sem ser convidado é a morte. Todavia, Mordecai mostra fé no poder de Deus, declarando que, se Ester falhar para com eles, ela morrerá de qualquer forma, e o livramento ‘procedente de outro lugar, pôr-se-á de pé para os judeus’. Ademais, quem sabe se não foi “para um tempo como este” que Ester se tornou rainha? (4:14) Vendo a questão, ela concorda em correr o risco, e todos os judeus em Susã jejuam com ela durante três dias.
Daí, Ester comparece diante do rei, vestida de seus mais requintados trajes reais. Ela obtém favor aos olhos dele, de modo que este lhe estende o cetro de ouro, poupando-lhe a vida. Ela convida então o rei e Hamã para um banquete. Durante o banquete, o rei insta-a a revelar seu pedido, assegurando-lhe de que será concedido, “até a metade do reinado”, após o que ela convida os dois para outro banquete no dia seguinte. (5:6) Hamã sai alegre. Mas, junto ao portão da casa do rei se acha Mordecai! Este se recusa outra vez a prestar honra a Hamã ou a tremer diante dele. A alegria de Hamã transforma-se em furor. Sua esposa e seus amigos sugerem que ele construa um madeiro de 50 côvados (22,3 m) de altura e obtenha uma ordem do rei para enforcar Mordecai nele. Hamã manda construir a estaca imediatamente.
Inversão na situação (6:1–7:10). Naquela noite, o rei não consegue dormir. Manda que lhe seja trazido e lido o livro dos registros, e descobre que não recompensou a Mordecai por salvar sua vida. Mais tarde, o rei indaga sobre quem está no pátio. É Hamã, que veio pedir ao rei autorização para executar Mordecai. O rei pergunta a Hamã sobre como deve ser honrado alguém de quem o rei se agrada. Hamã, imaginando que o rei estivesse pensando nele, delineia um pródigo programa de honras. Mas o rei lhe ordena: “Faze assim a Mordecai, o judeu”! (6:10) Hamã não tem alternativa senão vestir a Mordecai de esplendor régio, colocá-lo no cavalo do rei e conduzi-lo pela praça pública da cidade, clamando diante dele. Humilhado, Hamã se apressa em ir para casa, pranteando. Sua esposa e seus amigos não têm nenhum consolo a oferecer. Hamã está condenado!
Agora é hora de Hamã comparecer ao banquete com o rei e Ester. A rainha declara que ela e seu povo foram vendidos para serem destruídos. Quem se atreveu a perpetrar tal iniqüidade? Ester diz: “O homem, o adversário e inimigo, é este mau Hamã.” (7:6) O rei se levanta enfurecido e sai para o jardim. Hamã, sozinho com a rainha, implora que lhe poupe a vida, e o rei, ao retornar, fica ainda mais furioso ao ver Hamã sobre o leito da rainha. Sem demora, ordena que Hamã seja enforcado no mesmo madeiro que Hamã havia preparado para Mordecai! — Sal. 7:16.
Mordecai é promovido, os judeus são libertados (8:1–10:3). O rei dá a Ester todos os pertences de Hamã. Ester informa a Assuero seu parentesco com Mordecai, a quem o rei promove à posição anteriormente ocupada por Hamã, dando-lhe o anel com o sinete real. Novamente, Ester arrisca a vida ao comparecer perante o rei para solicitar a anulação do decreto escrito de destruição dos judeus. Contudo, “as leis da Pérsia e da Média” não podem ser anuladas! (1:19) O rei dá, portanto, a Ester e a Mordecai autoridade para redigir uma nova lei e selá-la com o anel do rei. Esta ordem escrita, enviada a todo o império do mesmo modo como a anterior, concede aos judeus o direito de ‘congregar-se e tomar posição pelas suas almas, para aniquilar e matar, e destruir toda a força do povo e do distrito jurisdicional que lhes mostre hostilidade, pequeninos e mulheres, e para saquear o seu despojo’, no mesmo dia em que a lei de Hamã entra em vigor. — 8:11.
Chegando o dia designado, 13 de adar, nenhum homem consegue resistir aos judeus. A pedido de Ester ao rei, a luta prossegue em Susã até o dia 14. Ao todo, 75.000 dos inimigos dos judeus são mortos em todo o império. Outros 810 são mortos em Susã, o castelo. Entre estes se acham os dez filhos de Hamã, que são mortos no primeiro dia e pendurados no madeiro no segundo dia. Não se toma despojo. No dia 15 de adar, há descanso, e os judeus passam a banquetear-se e a regozijar-se. Mordecai dá então instruções por escrito para que os judeus guardem essa festa de “Pur, isto é, a Sorte”, todos os anos nos dias 14 e 15 de adar, e isto fazem até hoje. (9:24) Mordecai é exaltado no reino, e se vale de sua posição, como o segundo depois do Rei Assuero, “para o bem de seu povo e falando paz a toda a descendência deles”. — 10:3.
TIRANDO PROVEITO PARA NOSSOS DIAS
Embora nenhum outro escritor da Bíblia faça qualquer citação direta de Ester, o livro se harmoniza plenamente com o restante das Escrituras inspiradas. De fato, fornece ilustrações esplêndidas de princípios bíblicos declarados mais tarde nas Escrituras Gregas Cristãs e que se aplicam a adoradores de Deus de todas as épocas. Um estudo das seguintes passagens, não só comprovará isso, mas será edificante para a fé cristã: Ester 4:5—Filipenses 2:4; Ester 9:22—Gálatas 2:10. A acusação feita contra os judeus, de que não obedeciam às leis do rei, é similar à acusação levantada contra os primitivos cristãos. (Est. 3:8, 9; Atos 16:21; 25:7) Os verdadeiros servos de Deus enfrentam tais acusações com destemor e confiança, com orações, no poder divino de os livrar, segundo o esplêndido modelo de Mordecai, Ester e seus co-judeus. — Est. 4:16; 5:1, 2; 7:3-6; 8:3-6; 9:1, 2.
Quais cristãos, não devemos achar que nossa situação difere da de Mordecai e Ester. Também vivemos sob “autoridades superiores” num mundo do qual não fazemos parte. Desejamos ser cidadãos acatadores da lei em qualquer país em que vivamos, mas, ao mesmo tempo, desejamos traçar corretamente a linha demarcatória entre ‘pagar de volta a César as coisas de César e a Deus as coisas de Deus’. (Rom. 13:1; Luc. 20:25) O primeiro-ministro Mordecai e a Rainha Ester deram bom exemplo de devoção e obediência na execução de seus deveres seculares. (Est. 2:21-23; 6:2, 3, 10; 8:1, 2; 10:2) Todavia, Mordecai traçou destemidamente a linha demarcatória quanto a obedecer à ordem real de curvar-se diante do desprezível agagita, Hamã. Ademais, cuidou de que se fizesse um apelo para a obtenção duma solução legal quando Hamã conspirou destruir os judeus. — 3:1-4; 5:9; 4:6-8.
Toda a evidência indica que o livro de Ester faz parte da Bíblia Sagrada, “inspirada por Deus e proveitosa”. Mesmo sem mencionar diretamente Deus ou seu nome, fornece-nos excelentes exemplos de fé. Mordecai e Ester não foram meros frutos da imaginação de algum novelista, mas foram servos reais de Deus, pessoas que depositaram confiança implícita no poder salvador de Deus. Embora vivessem sob “autoridades superiores” num país estrangeiro, empregaram todos os meios legais para defender os interesses do povo de Deus e sua adoração. Nós podemos seguir hoje o exemplo deles em “defender e estabelecer legalmente as boas novas” do libertador Reino de Deus. — Fil. 1:7.
Gostei muito desse post!!!
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