O Cordeiro e os Remidos no Monte Sião (Apocalipse 14:1-5)
Os capítulos 12 e 13 (lições 21-23) são assustadores. Um dragão terrível peleja contra os servos de Deus, e continua perseguindo os cristãos. Ele recebe a ajuda de duas bestas, uma feia e assustadora que escapa até a morte, e a outra bem suave e enganadora que mata as pessoas que não se submetem à força do mal. O dragão e seus aliados dominam as pessoas da terra. Diante de tanto poder, que esperança têm os servos do Senhor? Embora Jesus já tenha respondido a esta dúvida várias vezes no livro, ele quer confortar e fortalecer os fiéis. Antes de mostrar a outra aliada do diabo, a Babilônia (capítulo 17), ele reforça mais uma vez o tema principal do livro. Deus domina, julgando os perversos e salvando os fiéis. Assim, ele assegura os discípulos que, independente da ferocidade dos perseguidores, não ficarão desamparados. A primeira cena de conforto, neste trecho, mostra o Cordeiro com os 144.000.
14:1 – Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai.
Olhei, e eis o Cordeiro em pé: Apareceu numa hora boa! Depois de ver o dragão, a besta do mar e a besta da terra (parecendo cordeiro), agora João vê o verdadeiro Cordeiro, o mesmo que foi achado digno de receber o livro da mão direita do Pai (capítulo 5). Ele não esqueceu de seus servos, e não os deixou sozinhos. O Cordeiro está em pé, vivo e poderoso. Não se deitou, e não foi derrotado. Serve como exemplo para os seus seguidores. Não devem desistir ou se render ao inimigo.
Sobre o monte Sião: Sião aparece somente neste versículo no Apocalipse, mas já traz um significado rico pelo seu uso em vários outros trechos. Literalmente, Sião é o monte onde o templo foi construído, e freqüentemente representa a cidade de Jerusalém. Mas a palavra ganha um sentido maior no Antigo e Novo Testamentos. Davi esperava que a salvação viesse de Sião (Salmo 14:7). O Libertador veio de Sião para tirar pecados (Romanos 11:26-27; cf. Isaías 59:20). Este Redentor é o mesmo Rei que despedaçaria as nações com sua vara de ferro (Salmo 2:6-9). Jesus Cristo, a pedra angular do reino de Deus, foi posto em Sião (Romanos 9:33; 1 Pedro 2:6). O texto do Novo Testamento que mais ajuda é Hebreus 12:22-24 – “Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel.” Jesus, ressuscitado e vitorioso sobre a morte, reina em Sião e demonstra seu domínio sobre as nações. Como seria confortante para os santos perseguidos ver o Cordeiro em pé no monte!
E com ele cento e quarenta e quatro mil: Já encontramos os 144.000 no intervalo entre o sexto e o sétimo selos (7:1-8). Foram selados para proteção dos danos causados pelos ventos que os quatro anjos seguravam. Aqui, estão em pé sobre o monte, com Jesus.
Tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai: Mais uma vez, o contraste entre os discípulos do Senhor e aqueles “que habitam sobre a terra” se torna evidente. Os ímpios recebem a marca da besta, mostrando que lhe pertencem (13:16-18). Os fiéis recebem a marca do Senhor (7:3), o nome de seu Mestre, porque são dele (14:1; cf. 3:12).
O contraste entre estes dois nomes faz toda a diferença – até a diferença eterna. A marca da besta traz o nome ou número de homem; a marca dos 144.000 é o nome de Deus. O nome da besta é imperfeito e temporário; o nome de Deus é permanente, perfeito e eterno. É este nome que salva (Atos 4:12) e que é exaltado acima de todos os outros (Filipenses 2:9-11). Isaías profetizou sobre o Messias: “O seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto” (Isaías 9:6-7). Quem está na sombra do Cordeio, no monte Sião, com este nome na testa, não tem motivo para temer a besta com seus nomes de blasfêmia e sua autoridade para agir por 42 meses!
14:2 – Ouvi uma voz do céu como voz de muitas águas, como voz de grande trovão; também a voz que ouvi era como de harpistas quando tangem a sua harpa.
Ouvi uma voz do céu como voz de muitas águas, como voz de grande trovão: Uma voz forte, que nos lembra das vozes de Jesus (1:15) e da grande multidão de seus servos (19:6). Trovões, sempre no Apocalipse e quase sempre nas outras ocorrências na Bíblia, vêm do céu e comunicam a autoridade de Deus. Exemplos em outros livros incluem: “Os que contendem com o SENHOR são quebrantados; dos céus troveja contra eles” (1 Samuel 2:10); “Trovejou o SENHOR desde os céus; o Altíssimo levantou a sua voz” (2 Samuel 22:14); “Ou tens braço como Deus ou podes trovejar com a voz como ele o faz?” (Jó 40:9). No Apocalipse, vozes e trovões saem do trono de Deus (4:5) e do santuário dele (11:19; 16:17-18). João ouve a voz de um dos quatro seres viventes “como se fosse voz de trovão” (6:1). No sétimo selo, o fogo atirado do altar à terra foi acompanhado por trovões (8:5). No intervalo entre as sexta e sétima trombetas, o brado do anjo forte soltou as vozes dos sete trovões (10:3). A voz da grande multidão que adora a Deus é “como de muitas águas e como de fortes trovões” (19:6).
Era como de harpistas quando tangem a sua harpa: Como tantos outros símbolos no Apocalipse (incenso, altares, arca da aliança, etc.), a idéia dos harpistas vem do louvor dos judeus no Antigo Testamento (cf. 5:8; 15:2). Harpas e outros instrumentos foram características do louvor no templo em Jerusalém. Desta referência percebemos que a voz forte vem dos adoradores que honram ao Senhor.
14:3- Entoavam novo cântico diante do trono, diante dos quatro seres viventes e dos anciãos. E ninguém pôde aprender o cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra.4- São estes os que não se macularam com mulheres, porque são castos. São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá. São os que foram redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro5 -e não se achou mentira na sua boca; não têm mácula.
Entoavam novo cântico diante do trono, diante dos quatro seres viventes e dos anciãos: Um novo cântico celebra a grandeza do Senhor (veja Salmo 33:3 no seu contexto). Especialmente relevantes são as palavras de Davi: “Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos. E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR. Bem-aventurado o homem que põe no SENHOR a sua confiança” (Salmo 40:1-4; cf. Salmo 98:1-5). Isaías falou do Servo do Senhor e disse: “Cantai ao SENHOR um cântico novo e o seu louvor até às extremidades da terra, vós, os que navegais pelo mar e tudo quanto há nele, vós, terras do mar e seus moradores.... O SENHOR sairá como valente, despertará o seu zelo como homem de guerra; clamará, lançará forte grito de guerra e mostrará sua força contra os seus inimigos” (Isaías 42:10,13). Cânticos novos celebram o poder de Deus para proteger os fiéis e lhes dar a vitória sobre os inimigos (cf. Apocalipse 5:8-10). O novo cântico do capítulo 5 iniciou-se com os seres viventes e os anciãos, mas este cântico começa com outros que louvam a Deus na presença destes seres celestiais.
E ninguém pôde aprender o cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil: Todas as criaturas de Deus, tanto os seres celestiais como os homens na terra, podem e devem adorar a Deus como Criador (4:11) e adorar a Jesus como o Cordeiro vitorioso (5:9-14). Mas aqui somente os redimidos, resgatados pelo sangue do Cordeiro, conseguem cantar o novo cântico. Os anjos se regozijam com a salvação de pecadores (Lucas 15:10) e desejam compreender o mistério de Deus (1 Pedro 1:12), mas são os homens que experimentam a salvação em Jesus (Hebreus 2:16; João 3:16; Atos 17:30). Os homens redimidos têm uma relação especial com Deus, e uma dívida de gratidão única. São os salvos, representados pelo número 144.000, que cantam o novo cântico.
O resto deste parágrafo descreve os 144.000, acrescentando algumas informações não contidas no capítulo 7, e reforçando a figura de eles representarem os redimidos da terra. Estes 144.000:
Œ Foram comprados da terra: O Cordeiro comprou com seu sangue “os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (5:9). Os resgatados não pertencem mais aos habitantes da terra, pois se tornaram habitantes do céu (veja comentários sobre 13:6 e 8 na lição 22). A redenção é um aspecto fundamental da missão de Jesus. Os homens se vendem à escravidão do pecado (Romanos 7:14), mas não são incapazes de pagar o resgate para se livrarem (Romanos 7:24; Salmo 49:7-12). O resgate vem do Senhor (Salmo 11:9; 130:7), especificamente por meio do sacrifício de Jesus: “sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3:24). Em Jesus “temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Efésios 1:7; cf. Colossenses 1:14; Hebreus 9:12).
Não se macularam com mulheres, porque são castos: Os 144.000 são apresentados como homens virgens, que nunca tiveram relações sexuais. As interpretações literais, como a doutrina das Testemunhas de Jeová, que dizem que terão somente 144.000 no céu, encontram uma grande dificuldade com estas descrições. Se o número é literal, o resto da descrição deve ser igualmente literal. Teríamos que concluir que os 144.000 são homens virgens, e que não teria nem casado nem mulher no céu! De repente, o próprio apóstolo Pedro seria excluído do céu, pois foi casado (Mateus 8:14). Lembrando do capítulo 7, teríamos que excluir, também, qualquer gentio, e teríamos um número exato e igual de cada uma das 12 tribos citadas. Somente homens judeus e solteiros no céu? Alguém realmente acredita numa doutrina dessas? Obviamente, a descrição é simbólica, não literal. Israelitas são as pessoas que pertencem a Deus, o povo do Senhor. 144.000 é um número simbólico, e a pureza deles é espiritual.
O casamento foi criado por Deus, e relações sexuais entre um homem e sua legítima esposa são puras e ordenadas por Deus (Hebreus 13:4; 1 Coríntios 7:2-5). O adultério e a prostituição são usados simbolicamente na Bíblia para representar a infidelidade espiritual, especialmente a idolatria: “Porque adulteraram, e nas suas mãos há culpa de sangue; com seus ídolos adulteraram, e até os seus filhos, que me geraram, ofereceram a eles para serem consumidos pelo fogo” (Ezequiel 23:37). Deus disse que Judá “adulterou, adorando pedras e árvores” (Jeremias 3:9). Da mesma forma, a castidade ou virgindade representa a pureza espiritual e a abstenção da idolatria: “Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo. Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (2 Coríntios 11:2-3). Os redimidos não participam da idolatria – não adoram a besta – porque são fiéis e puros diante de Deus.
Ž Seguidores do Cordeiro para onde quer que vá: Jesus convida os homens a segui-lo: “Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23). Aceitação deste convite é a característica que define os discípulos: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (João 10:27). A decisão de seguir a Jesus traz ao discípulo a promessa da comunhão com o Senhor: “Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará” (João 12:26). Mas como esta descrição sugere, temos de segui-lo para onde ele nos guia. Não é suficiente seguir até onde sentimos bem, ou até onde concordamos com ele. A obediência não é andar até onde enxergamos o caminho, pois “andamos por fé, e não pelo que vemos” (2 Coríntios 5:7). Quando reconhecemos a soberania e autoridade absoluta de Jesus (veja Mateus 28:18), devemos ser obedientes em tudo. Jesus é o exemplo perfeito: “Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca” (1 Pedro 2:21-22).
Redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro: Ele repete o fato de serem redimidos mas, desta vez, destaca o propósito ou destino dos salvos – se tornam primícias para Deus e para Jesus. No Velho Testamento, as primícias pertenciam a Deus e a casa dele: “Honra ao SENHOR com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda” (Provérbios 3:9; cf. Êxodo 23:19; 34:26; Levítico 2:12; 23:17; Deuteronômio 26:2). Ainda no Antigo Testamento, a idéia das primícias foi estendida para descrever o povo do Senhor, destacando a sua proteção dos inimigos: “Então, Israel era consagrado ao SENHOR e era as primícias da sua colheita; todos os que o devoraram se faziam culpados; o mal vinha sobre eles, diz o SENHOR” (Jeremias 2:3). Desta maneira, se torna comum no Novo Testamento descrever servos do Senhor como primícias: “Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas” (Tiago 1:18; cf. Romanos 16:5; 1 Coríntios 16:5).
Não se achou mentira na sua boca; não têm mácula: São pessoas honestas e puras. Estas palavras nos lembram do exemplo de Jesus em 1 Pedro 2:22 (citado acima). Ele é como um perfeito “cordeiro, sem defeito e sem mácula” (1 Pedro 1:19). O diabo e seus servos são mentirosos que induzem os homens ao erro pela falsidade de suas palavras. Os servos de Jesus falam e ensinam a verdade, e vivem pelos mesmos princípios. Assim, mantêm pureza na palavra e no proceder (1 Timóteo 4:12). A igreja que pertence a Jesus deve ser “gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Efésios 5:27).
Conclusão
A s bestas agem para seduzir os homens da terra, e para punir aqueles que não se submetem a suas falsas doutrinas. Qualquer discípulo, olhando para a situação na terra e os perigos ao seu redor, poderia facilmente se assustar com as perseguições que viriam se intensificando. Por isso, Deus pára um pouco e oferece, mais uma vez, conforto para seu povo fiel. Ele está em pé sobre o monte Sião, e os fiéis selados estão com ele.
Perguntas
1. Quem é o Cordeiro?
2. O que é representado por monte Sião?
3. O que estava escrito na fronte dos 144.000?
4. Quem podia aprender o novo cântico?
5. Quais são as características dos 144.000 destacadas neste capítulo?
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